sábado, maio 16, 2009

As Vampiras Lésbicas de Sodoma


E assim, com imensa pena minha, se encerra um ciclo de teatro. No Domingo passado, fui ver a última peça que me faltava da Companhia Teatral do Chiado (CTC), As Vampiras Lésbicas de Sodoma.
Claro que não saí de lá desiludida. Esta companhia já me habituou a peças completamente hilariantes e que me fazem sair do teatro super bem disposta. Estas Vampiras não se ficam nada atrás, dos discípulos que interpretam a Bíblia ou dos seguidores das Obras de Shakespeare.
Desta vez fomos acolhidos pelo próprio encenador, Juvenal Garcês, que fez as honras de introduzir o espectáculo.
Obviamente que numa boa peça de teatro onde a sátira está muito presente, as referências às peças que eu tanto aprecio e ao grande encenador que me viciou no teatro, não poderiam faltar. O mestre Filipe La Féria e os seus grandes musicais, estão sempre presentes nos textos destas peças. É de ir às gargalhadas com tais alusões.
Algo que, também, está sempre patente nas peças desta companhia é a sua capacidade de improviso, onde de algo super banal, sai uma piada, sai um gesto cómico, sai uma gargalhada desgarrada do público. Até as circunstâncias de alguns momentos ajudam à festa. Só para dar um exemplo: Numa cena onde uma das personagens retira da sua malinha um pastel de bacalhau e se põe a comê-lo (algo muito descabido, mas que é por isso que tem piada), todos no palco se põem a rir (incluindo o público, mas isso é normal, o que não é normal são os actores se desmancharem também). A personagem que está a comer o pastel, a Zulmirinha, chora a rir, não porque a cena é parva (e é realmente), mas porque inesperadamente encontra uma espinha no pastel. Por esta altura eu já soluçava, porque chorava de riso. Acho que nunca tinha rido tanto numa cena no teatro. Até os adereços ajudam à festa. Esta não foi a única cena inesperada. A mesma personagem é ainda protagonista de um voo no palco. Voo autêntico… numa cena onde é suposto atirar-se para o chão, ele faz um voo para o chão que quase aterra sobre o público. Acho que lhe valeu uma mazela. João Marta, tu estás lá!!!
Não posso deixar de referir a minha personagem favorita, a alentejana de Brotas, chamada Lizette. Não só se veste de sereia, como depois se apresenta em palco de vestidinho colorido… Ela é hilariante, não só pelo sotaque fantástico que imprime enquanto personagem, mas também pelo facto de passar a cena inteira a baralhar todos os termos possíveis e imaginários. Ok, o facto de dizer que é originária da freguesia de Brotas (onde já estive e achei uma terrinha muito acolhedora), ainda me despertou mais a atenção. Mas como já tinha adorado o Pedro Luzindro n’A Bíblia…, qualquer papel que ele aqui fizesse eu iria prestar a maior das atenções. Também, o seu Machado, o mordomo corcunda, tão bem caracterizado, está um primor. Coitado do Gastão Garcia (interpretado pelo não menos talentoso João Carracedo) que sofre nas mãos do mordomo de Magda Legerdemain (Simão Rubim).
O Simão tem sido a minha grande referência em todos os elencos das peças da CTC. Ele faz-me rir pelas suas expressões, pelas suas saídas descabidas, ele faz-me estremecer na cadeira, pela sua colocação de voz, pela sua postura em palco, ele é espantoso. Aqui tem alguns papéis que também são muitíssimo cómicos. Destaco o seu 1º papel que prima pela aparência sinistra, do alto das suas botas de vinil com saltos de meio metro, encarna o demónio Súcubo, cujo nome é mote de risota o resto da peça. Será demónio Subaru, ou demónio Sandokan ou ainda Sudoku? :p
A Rita Lello, de quem gosto imenso desde o seu papel em Os Serranos, também vai muitíssimo bem nos seus papéis de Virgem Sacrificada, Madeleine Astarté e Madalena Andrade. Só de pensar na cena em que a sua vampira Madalena Andrade está em cima da outra vampira Magda Legerdemain e diz: “Simão, não sopres... tu nem gostas...”, começo a rir-me. Bravíssimo!!!
Falta apenas referir o Manuel Mendes, que no 3º acto da peça me leva às lágrimas com o seu Dani e com a sua declamação de poemas tão… inesperados!
Não sei que consegui ser coerente neste post, mas a peça também não o é. É um conjunto de cenas construídas para o puro entretenimento, de onde o público sai com um grande riso estampado do rosto e eu, em particular, com uma dor de barriga por causa de tanta risota.
Se querem umas horas bem passadas, não percam as peças da CTC. As Vampiras Lésbicas de Sodoma estão, há 3 anos em cena, só para nos pôr bem dispostos.

"As Vampiras Lésbicas de Sodoma" uma história de sangue, ódio, ciúme, inveja, paixão, êxtase, perfídia e muita, muita luxúria...
Da antiguidade aos tempos modernos, o público é convidado a acompanhar esta hilariante comédia num permanente cruzar de géneros, desde o teatro-cabaret ao musical, passando pelos shows de travesti e a intemporal Revista à Portuguesa.


Encenação de Juvenal Garcês
Domingos às 21h00 no Teatro-Estúdio Mário Viegas

Elenco actual: Rita Lello, Simão Rubim, João Carracedo, João Marta, Manuel Mendes e Pedro Luzindro



PS: Falta-me tecer um texto dedicado a mais 2 peças, A Arte do Crime e A Bíblia – Toda a Palavra de Deus de uma Assentada. Ando é a assistir a muita coisa a um ritmo maior do que aquele que consigo escrever… Amanhã será mais um dia de teatro, Pedras nos Bolsos.

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papiro disse...

Olá Amiga, fiquei cheia de vontade de ir ver, porque tenho saudades de ir assitir a uma peça da CTC porque o Shakespeare já foi há alguns anos... Adorei o teu texto! Mas hoje vais ver uma peça com pedras nos bolsos??? isso nem parece teu! Acho que o Morgadinho não merece que lhe atires pedras, tu geralmente, é mais flores, beijinhos e abraços... podias ser mais meiguinha e vá, levar uns tomates para o caso da coisa correr mal... (Hoje o disparate assaltou-me mais cedo do que o habitual :P) Tenho a certeza que hoje te vais divertir muito, muito... até porque é impossível estar com as pessoas com quem vais estar sem se ficar bem-disposta! Manda beijokas, muitas a toda a gente.

Divirtam-se muito e que este espectáculo seja mais uma conquista de sucesso para o senhor Morgadinho, não dos Canaviais :P
(Ai isto hoje não tá nada bom, deve ter sido porque caí da cama ;)

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