domingo, março 29, 2009

O Meu Pé de Laranja Lima


O Rui Luís Brás já me havia surpreendido como encenador, em Listen To Me II, e tornou a fazê-lo com o musical infantil O Meu Pé de Laranja Lima.
Ia já de sobreaviso que iria ver uma história muito triste e assim é. A peça é deveras muito emotiva, talvez intensa demais para crianças, embora tenha passagens muito cómicas, que dão para dar umas boas gargalhadas.
Como é que uma peça onde os cenários são elementares e uma história tão simples, consegue maravilhar-me desta forma? Talvez a explicação seja mesmo essa, por ser tão simples e por nos tocar tão profundamente.
A peça conta a vida de uma família muito pobre que vive cheia de privações. Zezé é um dos membros mais novos da família, um menino de uma inteligência invejável para uma criança tão jovem. Vive da sua imaginação e dela se alimenta, é travesso e sofre as consequências. É um incompreendido pelos pais, pelo irmão e pela tia. Tem a irmã mais velha como uma amiga e no irmão mais novo um companheiro de quem trata com muito carinho. Zézé é um menino solitário que procura na sua imaginação a companhia que não encontra nas pessoas. Quando mudam de casa, por falta de dinheiro para pagar uma maior, personifica no seu jovem pé de laranja lima o seu amigo imaginário.
Talvez por não conhecer de todo esta história enternecedora, tudo tenha tido um maior impacto sobre mim. A Manoela Amaral (filha do Roberto Leal) é a actriz que nos emociona e que chora em palco ao interpretar de forma tão sublime o Zézé. Esta é a personagem que mais nos marca, no entanto muitas outras se destacam.
O Ariovaldo, um poeta, um trovador, é um dos amigos que Zézé faz na rua, enquanto pede esmola. É um nómada que simpatiza com a criança e a faz feliz, nem que seja apenas por alguns momentos. O Ariovaldo é aqui tão bem interpretado pelo David Ventura e é uma personagem muito cómica, o completo oposto da outra personagem que interpreta na peça, o pai do Zézé. Aí é um homem severo, empedernido pela vida dura. Apesar de ter bom coração, faz sofrer o filho. São 2 personagens bem distintas, mas muito marcantes.
O portuga (interpretado pelo Nuno Guerreiro) é o grande amigo de Zézé, ao ponto de quase se adoptarem como pai e filho. As cenas entre os 2 começam por ser hostis, mas depressa se tornam muito comoventes e ternas.
O irmão mais velho da família (papel entregue a André Lacerda) é uma personagem aluada, mas é encantadora a forma como o André dá vida ao Totoca.
É difícil ver esta peça sem que nos emocionemos, pela história em si, pelas interpretações, pela música (composta pelo Pedro Bargado, que também está de parabéns) e também pela linda mensagem.
Vou pegar numa frase que José Mauro de Vasconcelos (o autor desta história) escreveu, para resumir um pouco tudo o que a peça representou para mim. “A vida sem ternura não é lá grande coisa”. Eu só posso assinar por baixo.
O final da peça foi ainda marcado por uma pequena surpresa enviada a um dos aniversariantes do dia, o David. Ainda bem que foi a acertada!
É, sem dúvida, uma peça para toda a família, a não perder.

Sinopse
A partir da célebre narrativa de José Mauro de Vasconcelos "Meu Pé de Laranja Lima", o Teatro Politeama vai apresentar um espectáculo dedicado ao seu público infanto-juvenil que há vários anos assiste a espectáculos de alta qualidade artística dedicado às crianças, que são vistos por milhares de alunos dos estabelecimentos de ensino de todo o nosso país.

"Meu Pé de Laranja Lima" é uma das mais belas narrativas escritas em Língua Portuguesa, eterna e universal. É uma viagem ao mundo da infância e da ternura que comove pela sua simplicidade e ironia. "Meu Pé Laranja Lima" é uma referência da literatura luso-brasileira, uma história inesquecível e bela que nos prende com a atenção duma criança, com as asas da imaginação e a doçura da ingenuidade. O segredo de "Meu Pé de Laranja Lima" é a simplicidade. É nela que o jovem espectador irá viajar. Foi com emoção e ternura que José Mauro Vasconcelos criou o seu "Pé de Laranja Lima", com um coração grande e rico, para quem "a vida sem ternura não vale nada". Será com a alma limpa e clara, como os olhos puros da infância, que iremos conhecer um menino de seis anos, pobre, sensível e carente chamado Zézé que encontra no seu Pé de Laranja Lima, perdido na vegetação do quintal da sua casa, o afecto que a humanidade lhe tinha negado.

Neste espectáculo os jovens espectadores irão apaixonar-se por esse menino, tenta-lo conhecer melhor, tal e qual como ele irá descobrir o mistério da vida, aprendendo coisas novas, novas palavras, novas sensações em deslumbrantes experiências.

"Meu Pé Laranja Lima" é um espectáculo feito com o coração repleto de inocência e ternura, e uma lição inesquecível para todas as crianças e adultos.

in Teatro Politeama

Sem notas celestiais

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