Pela primeira vez, desloquei-me de Lisboa para ver um espectáculo que se realiza fora da capital. Mas se assim não fosse, não conseguiria ver o musical do mestre La Féria que está em cena no Rivoli no Porto, Um Violino no Telhado. Pelo menos, não com o elenco actual e eu nunca me iria perdoar se não visse o Bruno Galvão ou o Ruben Madureira. Para já, não está previsto que este musical chegue a Lisboa, pelo menos não enquanto o West Side Story esteja no Politeama (e espero que esteja longos meses).
O musical está prestes a sair de cena, esteve previsto terminar em meados do mês, mas na semana passada foram celebradas as 200 representações e agora tem direito a um prolongamento até, pelo menos, final do mês. Quem ainda não teve oportunidade de o ir ver, faço-o o quanto antes, não se irão arrepender.
O musical é tão rico que não sei o que destacar em 1º lugar. Talvez comece pelos cenários. Se há algo que me surpreende sempre nos musicais do sr. La Féria, é a apresentação do palco. Se o Jesus Cristo Superstar não tinha quase cenário de apoio, apenas as luzes e umas estruturas metálicas faziam muito bem o seu trabalho, aqui no Violino, temos uma decoração que nos transporta para a cidade russa de Anatevka, onde se passa a acção. Até a orquestra que se encontra em frente ao palco está vestida a rigor e toca os instrumentos tradicionais, de um povo que vive no início do século passado. A passagem das estações do ano, onde o vento, a queda das folhas das árvores, a neve, o sol-pôr, a lua gigante, as nuvens em movimento, tudo isso é-nos transmitido pela excelente combinação desses elementos. A casa de Tevye (a personagem central, tão sublimemente interpretado por José Raposo) é outro destaque do cenário. Ela roda, aparece e desaparece do palco com uma facilidade e uma graciosidade, encaixando-se na história como se também ela fosse uma personagem.
A sala é outro destaque. Não conhecia o Rivoli, por fora tem uma aparência muito semelhante ao Tivoli de Lisboa, embora seja maior em dimensão. A sala é super agradável e tem uma sonoridade muito melhor que o Tivoli. Apenas houve uma cena em que a música se sobrepunha à voz dos actores, mas penso que tenha sido porque estava muita gente em palco e as vozes se aglomeravam.
O guarda-roupa é outro pormenor que o encenador nunca descora. Claro que uma história passada em 1905, as vestes tinham de ser a condizer com esses tempos. As roupas humildes e de trabalho, as longas barbas para os mais velhos, as barbas por fazer nos mais novos, isto no que toca aos judeus, pois os Cossacos não usam barba e vestem-se de forma diferente, pois têm de manter alguma autoridade.
Depois temos a música. Confesso que não conheço o musical original, nem sequer o filme de 1971, por isso não posso comparar a adaptação portuguesa com a música do original, só sei é que todas as músicas são muito bonitas, cantadas com imenso sentimento, com alegria quando a situação o pedia, ou de forma emotiva nas cenas mais dramáticas. Os diálogos de Tevye com Deus são fascinantes.
E porque tenho ainda de falar do elenco… fico-me por aqui, recomendando vivamente este musical.
Sinopse
“Um Violino no Telhado” é baseado nas histórias de Shalom Aleichem sobre a vida de um pequena cidade judia no sul da Rússia, nas vésperas da Revolução de Outubro. A personagem principal é Tevye, um leiteiro pobre que tem cinco filhas, uma mulher com uma língua viperina e sarcástica e um cavalo muito preguiçoso que não tem força para puxar a carroça do leite. Apesar da sua pobreza e da austeridade do ambiente, Tevye mantém uma abordagem alegre nas questões da família, dos vizinhos e do seu Deus, a quem ele se dirige como se fosse um dos seus vizinhos, e não tanto como uma força imutável e omnipresente a temer.
A comunidade judaica desta pobre vila está assente na tradição e a chegada dos ventos de mudança irá transformar os seus valores e princípios à muito estabelecidos e que são a base da estabilidade e coerência.
A mudança é personificada não só com o advento da Revolução, mas também pelos jovens que procuram esquivar-se da tradição, determinando o seu próprio futuro.
Essencialmente, “Um Violino no Telhado” fala sobre o impacto das mudanças sociais e políticas no seio das comunidades e das famílias comuns, assim como as consequências das políticas do preconceito e da conveniência. Neste sentido, “Um Violino no Telhado” tem a qualidade de permitir passar uma mensagem forte, enquanto diverte os espectadores com as suas melodias apelativas, o enredo cativante e a coreografia invulgar.
O elenco
José Raposo (Tevye)
Rita Ribeiro (Golde)
Joel Branco (Lazar Wolf)
Helena Rocha (Yente)
Hugo Rendas (Motel)
Alexandre Falcão (Mordcha)
José Pinto (Rabi)
Sara Lima (Tzeitel)
Sissi Martins (Hodel)
Mafalda Tavares (Chava)
Inês Soares (Fruma Soares)
Ruben Madureira (Perchik)
Bruna Andrade (Avó Tzeitel)
Rogério Costa (Nachum)
Bruno Galvão (Fyedka)
Carlos Meireles (Chefe dos Cossacos)
Pedro Xavier (Mendel)
Nuno Martins (Avrahm)
Mirró Pereira (Shaidel)
Ana Isabel Ribeiro (Rifka)
Ivo Dias (Hone)
Pedro Pires (Farcel)
Cândido Dias (violinista)
Considerações Finais
Mais uma vez a companhia foi fantástica. Por causa do musical finalmente conheci as 2 meninas do “nuorte” que há muito desejava conhecer. A vocês, minhas queridas, A. e C. vos deixo um enorme beijo de agradecimento pela companhia, pelos devaneios antes, durante e depois da peça, e por me terem proporcionado mais um grande momento para recordar para o resto da minha vida.
À minha restante companhia irei agradecer como deve ser num próximo post.
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Caramba,Star. Tu és seguramente a pessoa que eu "conheço" que mais espectáculos vê!
bjos
Adorei o post..A peça está muito bem descrita!Realmente está tudo espectacular!Não consegui ficar descansada enquanto tão voltei a ver!!:D E quanto aos agradecimentos, eu é que agradeço a tarde fantástica!!Adorei conhecer-te!!Ainda bem que foi mais cedo do que poderia esperar!:)
Bjinhos=)*
JPT, apenas tento aproveitar o que de melhor a cultura tem para nos oferecer. Se tiver oportunidade de ir, porque não? ;)
Ainda ontem fui à Fnac e vim de lá carregada de folhetos com eventos que eu gostava de ver. Claro que não vou conseguir ir a tudo, mas ao menos estou informada do que se vai passando e quem sabe, aproveitar para ir a alguns.
E ainda eu não contei tudo o tenho andado a fazer, eheheheh!
Clarisse, foi tão bom, mas tão bom, que acho que as minhas palavras não chegaram para o transmitir devidamente. O ano começou da melhor forma possível, uma viagem, conhecer gente boa como vocês, estar com os amigos e… um musical do La Féria. Poderia pedir mais do que isso? Não me parece…
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